segunda-feira, 13 de outubro de 2008

Voz que se cala


Amo as pedras, os astros e o luar

Que beija as ervas do atalho escuro,

Amo as águas de anil e o doce olhar

Dos animais, divinamente puro.

*



Amo a hera que entende a voz do muro

E dos sapos, o brando tilintar

De cristais que se afagam devagar,

E da minha charneca o rosto duro.


*



Amo todos os sonhos que se calam

De corações que sentem e não falam,

Tudo o que é Infinito e pequenino!


*



Asa que nos protege a todos nós!

Soluço imenso, eterno, que é a voz

Do nosso grande e mísero Destino!...


*


(Florbela Espanca)

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