quarta-feira, 15 de julho de 2009
Sem Face
Abre os braços
Me recebe desmoronando,
Desfalecendo;
Me aperte contra teu corpo
E olhe nos meus olhos se apagando;
Contempla em mim
Essa coisa inacabada que sou
Essa beleza que não tenho
Essa frieza que não quero
Esse desespero em desabar;
Me abrace, me aceite
Sobre tuas pernas
Ainda que eu seja
Essa mulher sem face;
Me enlace, me afunde
Nesse gozo que surge
Ainda que eu pareça
Essa fera sem nome
*Cáh Morandi*
Passam das três da madrugada
Me afundo, são sete, oito oceanos
Nenhum humano resistiria
Eu tento um passo mais largo
Um suspiro mais profundo
O mundo gira, eu solto o ar
No tempo nada se modifica
O retrato ao lado, intacto,
E o mesmo sorriso frio
O desenhado rosto magro
Um gole de café amargo
Os olhos cheios de solidão
*Cah Morandi*
nossos braços se cruzam nas costas
em meio as promessas falsas de um pecador
na meia luz são só meios corpos
me enrosco nas pernas do meu traidor
os beijos são cheios de salivas amargas
as palavras tão claras de um doce rancor
no fim a gente nega, se perde na entrega,
uma indiferença tão perto do amor
*Cáh Morandi*
Eu queria que quando de minha parte já não houvesse mais nada, você me desse algo de esperança, algo que só as lembranças boas poderiam me ascender, queria que me desse algo de delicado e bonito, e aquela gana que tínhamos, aquela fé um no outro, para que eu desejasse tudo de novo e ainda mais. Para que eu me apaixonasse por você como na primeira vez, queria que me desse o amor que a gente fez só de se olhar.
.
.
*Cáh Morandi*
Mar Aberto
Um dia nós vamos nos cruzar
de amores novos
e aí não sei no que vai dar
se vamos só passar um pelo outro
ou vamos segurar um pouquinho o olhar
vai ser muita coisa para passar na mente:
muitos filmes, muitos discos,
muitos livros de presente,
muitos planos, muitos domingos,
muitas viagens, muitas sacanagens
e isso vai doer mais do que quando
fomos nos abandonando,
pois a dor é justamente a lembrança:
é a saudade de quando a vida nos
era um mar aberto arrebentando ondas
*Cáh Morandi*
Bastava o perfume que os cabelos deixavam nos travesseiros
E aquele beijo trocado em plena tarde de uma segunda feira agitada
Bastava aquela conversa sobre um assunto sem nexo no café da manhã
E as gargalhadas do ser amado vendo TV em plena madrugada
Bastava estarem abraçados e ainda deitados num dia preguiçoso
E implicarem antes de um passeio por causa de uma saia minúscula
Bastava mesmo que fosse uma briguinha antes de começar o dia
E você ficar pensando o dia todo em alguma forma de reconciliação
Bastava que ele chegasse, mesmo esquecendo das compras da semana
E que ela te perguntasse a cada minuto se você a amava
São nessas pequenas horas que se descobre ter sido feliz,
Mas isso é coisa que demora uma vida toda para se perceber
*Cáh Morandi *
Mas Perto
Não te tocar
Não saber o teor da tua pele
Não te sentir
Não descobrir como vibra tua voz
Não saber o que não é segredo
Nenhuma desconfiança
Nenhuma esperança nula
Algumas palavras vagas
Por não saber dizer
As palavras certas
Que te levariam a
Um sim, que te
Trouxessem para
Mim, que nos fizesse
Mais perto
*Cáh Morandi*
Revés
vou pegar um vôo
antes que seja tarde demais
eu vou, não volto
nem por céu, nem no cais
vou até os astros
antes que entardeça horizonte
eu vou, sem rastro
bem de fronte, bem na fonte
vou sem hora, sem demora
aventurar em outros ares
que aqui não mais posso ficar
no ansiar por novos mares
vou sem rota, sem derrota
procurar outra parte de mim
que não sei onde perdi
no começo ou perto do fim
*Cris de Souza & Cáh Morandi*
quantas coisas, primaveras,
borboletas no ar, sol,
chuva, continentes,
de repente até o mar,
outubro, outono,
vinis, Paris, aquele céu,
aquele amor, aquela hora,
agora, a madrugada,
e se quiser até a aurora,
a cor que não existe,
a fênix, as sereias que não vi,
os duendes, as fadas,
todos os contos que li,
paisagem, janela,
Guanabara, coração,
verão, apartamento,
avião, dólar, euro.
o que eu não daria
por um momento?
o que eu recusaria
para ter seu pensamento?
o tempo vai passar
e deixa passar com algum sentido
vem passar comigo
a vida, depois, o infinito.
*Cáh Morandi*
Um beijo
Hoje eu queria te levar um beijo de boa noite.
Um beijo delicado sobre tua testa, sem nenhuma outra intenção além de te desejar uma boa noite de sono.
Nem pedir para estar em teus sonhos, nem pedir para dormir ao teu lado.
Queria apenas te ver doce, te ver repousar com todas as inseguranças e perspectivas de um menino, já que a barba será feita somente antes do trabalho, já que os compromissos, por enquanto, estão apenas na agenda, já que o coração está tranqüilo e quase amando uma menina que queria beijar sua testa pelas noites que virão, já que o sono parece uma boa cama para os sonhos que ainda precisam esperar, já que agora o homem pode tirar a máscara e deixar o nu da face iluminar um punhado de estrelas que moram no teto do seu quarto, já que o tempo entre um pensamento e outro é tão rápido e tão milagroso que pode despertar o próximo dia.
.
.
*Cáh Morandi*
Sair da vida de alguém
não é um caminho que segue
e sim uma estrada de volta:
desmanchar só um lado da cama, um prato
sozinho sobre a mesa, nenhum recado
colado na geladeira, a casa intacta, a louça
se acumulando na pia, madrugadas mais
frias.
Voltar,
até as esperanças ficam
nos retratos que serão recolhidos.
Voltar,
ter a mala vazia e estranhamente
mais pesada.
*Cáh Morandi*
Corpo Aberto
Meu corpo aberto sobre o seu
chama que inflama
carne que vibra
as veias marcam a pele
o sangue ferve
breve, leve, rítmico
movimento, movimento
m o v i m e n t o
mãos deslizam molhadas
suam pelas coxas
força, prende, descobre até
o fundo do ventre:
E X P L O D E M
se fala qualquer língua
se ouve qualquer gemido
arde, consome,
afundo no desejo:
- não pára, não pára...
Você que me pega pelos braços
me jogando no meio de uma tempestade
afundando um olhar tão castanho
me toca, acorda os vulcões adormecidos:
eu que adoro me queimar no fogo
me gira, desperta em mim um furacão:
eu que não sei lidar com os ventos,
que perco o ar enquanto te admiro,
eu que já me contento em soltar
no teu pescoço um suspiro
*Cáh Morandi*
Que me Leve
Mas era isso, e ninguém sabia
Que eu te queria, eu tinha um silêncio
Mas era isso, e era uma vida
Que eu te daria por um pensamento
Mas era risco, e alguém havia
Que eu te cabia, eu tinha um corte
Mas era risco, e era uma via
Que eu te percorria por uma sorte
Me fez uma pequena maravilha
Me ilumina, eu viro estrela matutina
Que ainda de dia não pára de brilhar
Me fez uma grande ventania
Me fascina, eu reviro madrugada
Que ainda calada não para de vibrar
*Cris de Souza e Cáh Morandi*
Sonhei que ele me amava
e que chegava invadindo as portas
de casa; sonhei ou delirava:
ele me amou pela sala, até amar
a minha alma; sonhei e desejava:
entramos tão dentro um do outro
até que eu engravidasse de um filho,
de uma luz e clarão tão fortes
que deram cortes na noite:
abortamos o dia, quem diria,
que tivéssemos tanta sorte.
Cáh Morandi
para as coisas que existem
sem remédio, sem solução
que te tragam tédio,
desespero, frustação
há outras mil coisas
que são bonitas
que são doces
que são felizes
e se você não achar
nada de bom ou de maior
você cria alguma coisa
qualquer coisa boa que não existe
e se você botar fé nisso
essa coisa vai começar a existir
mesmo que ninguém veja
mesmo que só você acredite
*Cáh Morandi*
Aviso de Chegada
Tenho vindo de longe
ao teu encontro
atravessei continentes
e terras que não tem nomes
comi um pouco de fome
tornei-me estrangeira
de mim mesma
Espera
estou quase no fim do caminho
me reserve para a chegada
um pouco dessa tua doçura
para que quando eu te beijar
o gosto amargo da distância
se dissolva como se nunca
tivesse existido
*Cáh Morandi*
Atrasou
E quando eu estiver nua do tempo
e dos meus compromissos alheios,
da hora marcada para levantar,
dormir, jantar e tomar café,
o dia que eu não me preocupar
com a casa desarrumada,
perder uma hora no aeroporto,
sair sem pressa de voltar,
eu sei que será tarde...
tarde demais para o amor chegar.
O tempo todo eu controlei o tempo,
e acabei por fazer o amor se atrasar.
*Cáh Morandi*
Sobre Adormecer
de tudo durante a vida
sempre valerá a pena
todo perder, todo ganhar
todo partir, todo ficar
todo encontro, todo desencontro
todo choro, todo riso
a vida é mesmo isso
mesmo que a gente não veja
há tempos de cegueira passageira
em que os olhos serão esquecidos
mas por todo sonho que será sonhado
valerá à pena ter adormecido
.
.
*Cáh Morandi*
Abri-me
meu olhar e minha paixão
pelas coisas de fora
me fascinam e quase me levam
apesar da beleza quase que irresistível
apesar da doçura e do deslumbramento
apesar da vontade e querer de estar longe
a vida é uma cilada sem chances de fuga
eu quase me esqueço, mas quando me toco
quando a ventania começa a soprar mais forte
me vejo, me tenho e me lembro:
o amor é uma porta para dentro.
(Cáh Morandi)
Os Lirios que Demoram
Somos atrasados, somos ultrapassados por nossa pressa
só percebemos o amor a tempo de lembrá-lo
só descobrimos que era a última chance depois de perdê-la
só aprendemos depois que os erros foram cometidos,
que as oportunidades passaram,
que os anos foram estampando nosso rosto;
beijaríamos mais doce se soubéssemos que aquele
seria o último beijo;
gravaríamos a expressão do riso, o som do riso,
a leveza do riso, o porque do riso;
amaríamos mais quem nos importa do que
nosso egoísmo;
amaríamos mais.... e apenas isso nos salvaria
de uma vida comum.
(O amor esquece de começar. Você estava dento dele, e eu acabo de chegar. Só agora cheguei ao amor, eu cheguei a você. Depois que as juras venceram, que os presentes foram dados, que os corpos foram expostos. Eu estou sempre atrasada. Eu sou sempre depois de você. Tenho sempre as certezas erradas. Você já foi, e eu ainda estou te esperando naquele aeroporto.
Eu te amo, tarde mais, naturalmente.)
*Cáh Morandi*
só percebemos o amor a tempo de lembrá-lo
só descobrimos que era a última chance depois de perdê-la
só aprendemos depois que os erros foram cometidos,
que as oportunidades passaram,
que os anos foram estampando nosso rosto;
beijaríamos mais doce se soubéssemos que aquele
seria o último beijo;
gravaríamos a expressão do riso, o som do riso,
a leveza do riso, o porque do riso;
amaríamos mais quem nos importa do que
nosso egoísmo;
amaríamos mais.... e apenas isso nos salvaria
de uma vida comum.
(O amor esquece de começar. Você estava dento dele, e eu acabo de chegar. Só agora cheguei ao amor, eu cheguei a você. Depois que as juras venceram, que os presentes foram dados, que os corpos foram expostos. Eu estou sempre atrasada. Eu sou sempre depois de você. Tenho sempre as certezas erradas. Você já foi, e eu ainda estou te esperando naquele aeroporto.
Eu te amo, tarde mais, naturalmente.)
*Cáh Morandi*
Time of Sunrise
guarda para amanhã
as coisas que precisam de mais tempo,
o beijo que precisa ser mais lento,
a palavra que precisa ser pensada antes de dita,
a ação que dever ser pesada antes de feita,
guarda para amanhã
um pouco de tanta sede,
um pouco de tanto passo,
um pouco de tanta de gente,
guarda para amanhã
logo tudo há de ser ...
o que não é agora
o que sem demora
vai amanhecer
.
.
*Cáh Morandi*
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