sábado, 27 de junho de 2009


Eu não tenho cabelos vermelhos e o meu vestido não é amarelo.
Eu sou só uma menina invisível, deitada na grama invisível que a moça que não sabia desenhar, não desenhou.
Aquele é o menino que eu não lhe falei.
Ele sempre está preso num único instante; o instante em que o moço que sabia desenhar, o desenhou.

O balão que subia as nuvens, com várias crianças chamando, teve de desviar o caminho, pois não fazia parte desse desenho. O avião que trazia uma faixa, com linda declaração de amor, teve de mudar a rota, pois neste céu azul é que não foi desenhado. O pombo-correio que veio voando de fora da imagem, bateu o bico na borda e caiu. Por isso, o menino está sempre só.

Se as crianças do balão não conseguiram.
Se o avião também não conseguiu. Se nem o pombo-correio teve sucesso, como é que eu, uma menina invisível, feita de palavras, poderia chegar até ele? Foi o que passei dias e dias pensando.
Então, numa de minhas viagens, ouvi dizer que uma imagem valia mais do que mil palavras.
Não tive dúvidas.
Abri a oficina invisível, acendi as luzes transparentes e comecei a construir este imenso abraço de palavras.
De mil e duas palavras. P
ara, um dia, entregar a ele.

Rita Apoena

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